Mas afinal, por que os pequenos negócios são diferentes?

Essa pergunta é geralmente respondida com base na pequena força econômica da empresa, expressa em seu faturamento. Uma descrição (tautológica) de uma característica dos pequenos negócios que desconhece o principal: o pequeno volume de transações é, ao mesmo tempo, causa e consequência da natureza distinta dos pequenos negócios. A pequena empresa é diferente da empresa de livro texto.

Três elementos substantivos distinguem os pequenos negócios das médias e grandes empresas:

Primeiro: papel do empreendedor à frente da empresa

Deficiências de conhecimentos em técnicas de gestão e carências em habilidades negociais do empresário são tão mais perniciosos para o sucesso de uma empresa, quanto menor for a separação entre propriedade e gestão. A quase inexistência dessa distinção é uma característica fundamental dos pequenos negócios. Neles, o papel do empreendedor é central e insubstituível: um “faz tudo”, que assume múltiplas funções em um contexto organizacional com tênue hierarquização e departamentalização.

Segundo: flexibilidade e falta de economias de escala

A flexibilidade é outra importante diferença dos pequenos negócios em relação as empresas de maior porte. Neles predominam relações de trabalho, com os fornecedores e com os clientes bastante flexíveis e, frequentemente, com alto grau de informalidade.

A grande flexibilidade dos pequenos negócios é o outro lado da moeda da pequena escala da sua oferta de produtos e serviços.

Terceiro: inserção do pequeno negócio no mercado

Sem as possibilidades e as vantagens competitivas proporcionadas pela economia de escala, o posicionamento no mercado é fator chave para o desenvolvimento ou mesmo para a sobrevivência de um pequeno negócio.

Não por último, os fatores intra-firma desenvolvem-se em função das oportunidades e desafios do mercado no qual a empresa está inserida ou pretende se inserir. Um exemplo: grandes investimentos em determinada região geram emprego e renda. Consequentemente, o mercado regional ganha dinamismo e passa a apresentar demanda quantitativamente ampliada e qualitativamente mais exigente.

Em tal cenário as novas condições do mercado passam a atrair novas unidades empresariais, acirrando a concorrência. Para os pequenos negócios estabelecidos na região surgem novas oportunidades e desafios. Aqueles que não conseguirem reciclar seus produtos e serviços à luz do novo perfil da demanda correm o risco de sair do mercado. Em contrapartida, aqueles que se ajustarem rapidamente à nova constelação de mercado tendem a ampliar seus resultados.

Ao problematizar os efeitos de mudanças profundas em um mercado regional, esse simples exemplo evidencia um binômio inafastável: oportunidades e desafios do mercado ditam as necessidades e possibilidades de desenvolvimento adequado às empresas.

Esse fato é atestado por diversas pesquisas sobre mortalidade de pequenos negócios. Além dos impostos, burocracia e falta de crédito, também a falta de clientes e forte concorrência foram, segundo informações de seus proprietários, os fatores determinantes do fracasso dos novos negócios em seus dois primeiros anos.

Ao identificar na falta de clientes e na forte concorrência as principais causas para o insucesso de seu negócio, esses empreendedores evidenciam uma perspectiva ingênua do funcionamento do mercado. Por outro lado, eles indicam, ainda que involuntariamente, os fatores determinantes para o sucesso de uma empresa: enquanto o ambiente legal e o contexto histórico, social e cultural influenciam o conjunto das empresas indistintamente, a inserção no mercado é sempre singular.

A melhor forma de inserção de um pequeno negócio no mercado subordina-se às características da demanda. Em um mercado de produtos padronizados, logo, com o preço como fator determinante da demanda, a produção em pequena escala não é competitiva. O contrário se dá em mercados de nicho e customizados.

A “falta de clientes e forte concorrência”, identificadas pelas pesquisas, são reflexos da realidade de um grande número de pequenos negócios brasileiros concorrendo (sem economias de escala) com médias e grandes empresas em mercados de produtos e serviços de massa. Nesses mercados, devido as externalidades e sinergias das múltiplas formas de relacionamento entre fornecedores, fabricantes, distribuidores e clientes, a participação em cadeias de valor de grandes empresas representa uma alternativa mais promissora para os pequenos negócios.

 

Fonte: https://www.linkedin.com/pulse/mas-afinal-por-que-os-pequenos-neg%C3%B3cios-s%C3%A3o-carlos-alberto-dos-santos/

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